terça-feira, 10 de maio de 2016

É preciso compreender o seu próprio tempo.


Estamos vivendo em uma época em que enxurradas de informação chegam até nós diariamente. Muitas delas dizem que temos que fazer atividades físicas, outras que temos que viajar. Existem aquelas que dizem que estamos deixando nosso tempo passar e escapar de nossas mãos e precisamos correr para fora e curtir a vida intensamente. Falam sobre os males do presente século e o que devemos fazer para evitá-los. Há ainda aquelas que dizem que estamos desatualizados e precisamos fazer o curso tal, tirarmos a certificação XPTO e participar de inúmeros eventos imperdíveis !
Com tantas chamadas à diversidade de atividades, temos a tendencia a nos sentirmos ansiosos e sem foco. Começamos a achar que o que temos ou fazemos no presente momento de nossas vidas é pouco e precisamos buscar sempre mais e mais, aprender mais, viajar mais, emagrecer mais, entender mais de política, história, economia, economia, informática, etc.
E como se não bastasse, preciso também ser um ser humano perfeito que pratica o bem o tempo todo, participa de instituições de caridade, se preocupa com a sustentabilidade, só se alimenta de produtos orgânicos e não compra produtos em empresas que financiem trabalho escravo ou qualquer outra coisa do mal.

Ufa! Todas essas questões citadas acima são importantes. Mas você já parou pra pensar que talvez você simplesmente não consiga ser tudo isso e todo esse apelo à "vida ideal" possa estar te fazendo olhar a vida com tédio e insatisfação?
Tenho aprendido com as experiencias da vida que é preciso entender o nosso tempo. É preciso estabelecer metas, e não somente isso, analisar os passos que precisa dar para alcançar essas metas, e realizar de forma racional como poderá dar esses passos. Essas metas no entanto, precisam estar de fato de acordo com nossa realidade, nossos anseios e nossas especificidades. Não adianta tentar abraçar o mundo.
Se você curte artes, busque formas de poder estar mais em contato com isso. Mas se apenas acha legal ver alguém fazer arte e você na verdade é apenas um expectador e ponto, talvez se tentar fazer um curso de pintura, por exemplo, não se sinta tão realizado como imaginava. Por outro lado, se começar a investir em estudos, digamos, sobre jardinagem, quem sabe consiga se identificar e aí sim se sentir em contentamento.



Um grande perigo de quem está frustrado e em busca de "atividades" é usar essas tais como válvula de escape para problemas muito mais profundos os quais busca-se reprimir, ainda que inconscientemente, enganando-se a si mesmo com a ideia de que "quando faço isto me sinto em paz" ou "quando faço aquilo, descarrego tudo".
Não estou dizendo que não devamos ter hobbies ou atividades que aliviem a mente e nos descarreguem da tensão do dia a dia que todos nós temos. Pelo contrário, acho demais importante que nossa vida seja regada de movimentos e interações que nos proporcionem exercício mental e satisfação.
O grande problema é quando usamos essas coisas para "tapar" dificuldades emocionais que precisam muitas vezes serem tratadas de outra forma.

Como sempre digo, eu escrevo sobre o que eu vivo e, por diversas vezes, me vi nessa situação. Estava com alguns problemas na área sentimental há anos, e geralmente quando tinha um momento que decidia que precisava mudar ou me afastar das situações que me machucavam, eu corria pra fazer alguma atividade que ocupasse minha mente. Daí geralmente acabava gastando algum dinheiro com algum curso, ou me esforçando além da conta em alguma coisa que na verdade, gerava uma fuga momentânea, mas que logo, logo me entediava e eu passava a me sentir insatisfeita e vazia novamente.

Foi à duras penas que comecei a perceber que tudo que eu tinha que fazer era entender o meu momento, compreender o meu tempo. O tempo que eu precisava, não era de fazer nada além do que cuidar das minhas emoções e descansar a mente. Comecei a ler sobre o assunto que me causava dano, buscar ajuda em sites de auto ajuda, livros, retomei as atividades de meditação diárias (no meu caso, ler a Bíblia Sagrada e devocionais em vídeo ou escrito) e a cuidar da alimentação e fazer atividade física regular. De repente percebi que minhas emoções estavam retomando a normalidade e aquele desejo de fazer mil e uma coisas havia desaparecido.



Ainda desejo realizar muitas coisas nessa vida, mas simplesmente entendi que há um tempo e uma ocasião para tudo. Que não adianta apressar coisas que não são para eu fazer nesse momento, mas que posso focar em outras que estão mais acessíveis e são tão importantes quanto. E principalmente, descansar, cuidar da mente, do corpo, da alma e do coração é fundamental, além de se afastar de pessoas e/ou situações nocivas e se aproximar das que fazem bem.

Somente assim é possível não se deixar levar pelos apelos midiáticos e investir tempo e dinheiro somente naquilo que terá bom proveito e retorno, naquilo que poderemos começar e terminar. Não sei você, mas eu detesto iniciar algo e não ir até o fim. Isso me deixa extremamente frustrada e da forma que eu estava levando a vida estava começando a colecionar coisas inacabadas.
Foi muito difícil admitir pra mim mesma que eu precisava parar e me perdoar por não terminar, parar de me cobrar excessivamente, entendendo que não era a hora, eu apenas estava fugindo das minhas dolorosas realidades.

No livro de Eclesiastes capítulo 3 e 4, o rei Salomão, discorre sobre a futilidade da vida e em como no fim tudo é "correr atrás do vento", ou seja, como todo nosso esforço no final das contas só tem valia quando nos proporciona alegria e nos permite viver uma vida de paz com quem amamos. No mais, é tudo passageiro. Iremos todos para o fim da linha.
http://image.slidesharecdn.com/umavidacompropsitos

O que posso concluir aqui é que hobbies, conhecimento, aprendizado, passeios e outras atividades são importantes e devemos buscar sempre algo que nos motive e nos permita fazer algo realmente útil a nossa vida. Mas quando o fazemos por euforia momentânea ou porque a mídia nos diz que temos que fazer, ou porque todo mundo tá fazendo, é bem provável que caiamos de novo na insatisfação e voltemos à estaca zero de uma vida sem propósito e cor.

Respeite seu tempo. Curta seu momento. Mesmo que esse momento seja o momento de não fazer nada. Viva um dia de cada vez.
"Há tempo de buscar, e tempo de desistir, tempo de conservar e tempo de jogar fora...
Considerando tudo isso, cheguei à conclusão de que não existe nada melhor para o ser humano do que ser feliz no trabalho que realiza e desfrutar dos seus resultados; afinal essa é a sua recompensa. Porquanto, quem de nós tem o poder de saber o que vai acontecer depois da nossa morte?"Eclesiastes 3.6 e 22
byPIU

Nenhum comentário: